Paris Brule
Pierre Bourdieu descreve em "La France qui parle" mil razões para o que acontece em Paris.
Os guetos nacionais, a vergonha dalgumas profissões, a disparidade de rendimentos, o inferno dos quotidianos cidade-arredores-cidade, as famílias encolhidas, a falta de redes de apoio ou networks de integração...As razões são muitas e estão lá para quem as quiser ler, numa obra prima da antropologia moderna.
E o incentivo?
Duas anordagens são possíveis para o fenómeno:
1)O incentivo é individual - Cada um dos participantes nesta guerra, luta por si, numa catarse regeneradora da sua explosiva infelicidade. A quase certeza de impunidade, a crescente tolerância dos sistemas de justiçã, os 15 segundos de visibilidade na TV nacional são os confortos que atenuam qualquer receio de retalização.
E ao fim do dia, chegam a casa, exaustos das suas batalhas, um pouco menos suicidas e um pouco menos bombistas. Massacrados pelas ideologias anti-americanas, anti-globalização, anti-consumo, anti-tudo, também querem ser anti qualquer coisa. Por qualquer razão. Não pretendem nada, não lutam por nenhuma objectivo, apenas serem anti Sarkozy , anti-pol´+icia, anti-ordem.
2)O incentivo é colectivo - Pertencer ao grupo dos que se queixam, dos que participam, não ficar isolados nos acomodados. Pertencer a grupos muçulmanos, a gangs de rua, a gangs nacionais passa falsa uma sensação de pertença, que diminui o isolamento individual aumentando a integrabilidade dos sós residentes da periferia.
Reflexão porventura mais interessante é saber quem ganha com isto.
1)Em primeiro lugar, caladinhos para não parecerem parte interessada, a extrema-direita não deixará de facturar com as suas promessas anti-imigração, maior segurança e repressão, ensino mais moralistas, etc.;
2)Os grupos extremistas, que muito pouco preocupados com a imagem pública, conseguem com estes tour de force arregimentar mais facínoras para as suas lides bombistas, criando em simultâneo mais conteúdo para os sseus media clandestinos, como a net; tudo o que é bom é Allah, tudo o que é mau é ocidental e perecerá;
3)Os media que têm boas fotografias e motivos para vender uma data de produto;
Não seja este um movimento orquestrado, a guerra acabará brevemente (semanas); libertos da sua pressão revolucionária, exaustos pelo cansaço, desopilados, os incendiários regressarão a casa, e dormirão tranquilos depois destas sessões de psicanálise colectiva; os problemas manter-se-ão latentes nas mesmas regiões e bairros; sem solução....
Porque se o mundo globalmente evolui em média bem para a maioria, as minorias maiores continuarão a ser o mexilhão que está sempre fodido. Ou mesmo que não esteja, sente-se....
3 Comments:
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O seu post tocou em pontos fundamentais mas poder-se-à também falar daqueles que perdem e muito. Aqueles, cuja visibilidade não interessa e que se movimentam em mundos obscuros e marginais alimentando e alimentando-se ferozmente desse rebanho de ovelhas desgarradas. Falo das máfias da droga, com certeza. Mas esse é um assunto que dava pano para outras mangas.
Resto de bom domingo para si
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